Para cada situação, as mães sempre têm uma receita que ajudam a lidar
com o problema.
Uma antiga lenda chinesa dá conta
que o chá, assim como muitas das grandes invenções, foi obra do acaso. Por
volta do ano 2800 a.C., o imperador Shen Nung estaria fervendo água para beber
(um hábito higiênico local para evitar doenças) e, desatento, não percebeu que
algumas folhas caíram dentro do recipiente. Ao ingerir, achou a bebida saborosa
e, a partir de então, passou a fazer experiências com diversas folhas. Nascia
ali o chá, conceito que se espalhou pela China e ganhou o mundo, inclusive o
Brasil. Por aqui, o que não faltou foi matéria prima.
Quem se apropriou de invenção
chinesa foram principalmente as mães. Em virtude de cultura passada de geração
para geração, é difícil encontrar alguma que não tenha receitas para curar
cólica, tosse, resfriado ou, simplesmente, para acalmar o bebê.
De acordo com Adauto Luiz Santos,
professor-mestre do Instituto Avalon, os benefícios dos chás já são estudados
há muito tempo. “Alguns princípios da farmacologia vêm de crenças populares. O
povo lança a ideia e a ciência busca comprovar”, explica. Segundo ele, existe
até uma especialidade, chamada etnofarmacologia, que estuda apenas as crenças
populares.
Para especialistas mais
puritanos, a única bebida que deve ser chamada de chá é a preparada à base de
folhas da Camellia sinensis, árvore
originária da China, de onde se faz chá preto e chá verde. Mas, no Brasil, isso
não é seguido, sendo qualquer infusão com partes de planta denominada como tal.
Levando-se em conta apenas o critério popular, calcula-se que existam mais de
três mil tipos de chás em todo mundo.
Algumas plantas são estrelas do
universo infantil e velhas conhecidas das mães. A erva-doce é uma delas. É
bastante usada para combater as tradicionais cólicas dessa fase. A camomila,
para dor de dente, o maracujá, como calmante, a romã, para dor de garganta, o
alho, para o resfriado, o abacaxi, para a tosse, entre outros. A sálvia, por
exemplo, que é um antisséptico e cicatrizante, pode ser combinado com hortelã e
camomila, que servem de aromatizantes, deixando a bebida com sabor mais
agradável para o bebê.
Para a pediatra Claudia
Nascimento, coordenadora do pronto socorro infantil do São Camilo Ipiranga, os
chás são bem vindos em muitas situações, mas só devem ser introduzidos na dieta
do bebê a partir do sexto mês de amamentação. “Até o sexto mês, o único
alimento do bebê deve ser o leite materno. Não se deve oferecer nem chá. O ato
de sugar a mamadeira é mais fácil que o peito, o que faz com que a criança
abandone a amamentação. Além disso, ao ingerir determinado chá, perde a fome
para mamar”, explica a médica. Mas ela admite que, em alguns momentos, a bebida
pode ser utilizada, em pequena quantidade, para aliviar cólicas.
Ervas Podem ser confundidas
Algumas plantas são parecidas,
mas têm funções diferentes.
A recomendação dos especialistas
é que os chás nos primeiros meses de vida (de preferência, a partir do sexto
mês) devam ser isentos de açúcar e mel. Esses artifícios só podem ser
introduzidos na dieta das crianças em uma fase mais avançada. Outra contraindicação
é o consumo de café por parte dos pequenos. “O café é rico em cafeína,
substância que estimula o sistema nervoso, deixando a criança agitada e sem
sono”, explica o fitoterapeuta Adauto Luiz Santos, professor mestre do
Instituto Avalon.
O especialista ainda recomenda
que se tenha cuidado na hora de comprar as ervas. Muitas vezes, por falta de
conhecimento de plantas, acaba-se comprando “gato por lebre”. “Nem sempre as
pessoas que vendem as ervas têm má-intenção e sim falta de conhecimento daquilo
que está vendendo. Dessa forma, pode haver alguns enganos, como pedir erva-doce
e receber funcho ou erva-cidreira e receber capim-limão. Além disso, erva-doce,
erva-cidreira e capim-limão são parecidas, embora tenham funções diferentes”, afirma
o fitoterapeuta. Ele recomenda, ainda que o pediatra seja sempre informado do
uso chás por parte dos bebês.